Nos últimos meses
tenho pensado sobre os vínculos e os encontros da vida, naqueles que construímos
em outros países: encontros de aprendizagem e de amizade. Sim, porque toda
amizade é uma aprendizagem.
Meu vinculo com
Barcelona sempre foi muito intenso e acredito que a amizade foi um dos motivos
que fizesse com que meu coração sempre estivesse por estes lados do mediterrâneo.
Esta semana, em
especial, escrevendo a 3ª carta da tese, para minhas amigas, retomei o livro Retratos do estrangeiro: identidade
brasileira, subjetividade e emoção da autora Claudia Barcellos Rezende para
retomar ideias e temas que trabalha a autora no livro e principalmente reler um
capitulo que trata das emoções e os vínculos de amizade que se constroem em
outro país. O livro examina a problemática geral das identidades nacionais e
levam a autora a pesquisar, como pessoas que fizeram pós-graduação no exterior
experimentaram ser um estrangeiro brasileiro.
Encontrei um vídeo
na internet interessante sobre o tema da amizade. Nesta entrevista que aborda o
tema através da fala de experiências e espaços diversos, Claudia comenta que ao
realizar seu estudo comparativo percebeu que “aqui (Brasil) a amizade era usada
muito como sentimento e por isso ela pode estar presente em várias relações: relações
de trabalho, relações de rua”.
Voltando ao
livro para relacioná-lo com minhas experiências de amizade aqui em Barcelona,
dei-me por conta quais amizades foram conservadas durante o período de
2006-2009, mas também como estás foram construída.
Lembro-me
perfeitamente que ao chegar a Barcelona preferia estar mais “perto” das pessoas
daqui. Queria ter a oportunidade de conhecer outras pessoas, outras culturas e
também praticar outros idiomas e observava que muitos brasileiros se fechavam
em nichos e só conviviam com brasileiros.
Com o passar dos
anos, dei-me por conta que meu circulo de amizades era de brasileiros. Não só
isso, a musica que escutava era brasileira, minha alimentação tinha fortes características
da comida brasileira e até mesmo o sabonete que eu usava era brasileiro.
(Meus amigos
sabem bem da minha obsessão por sabonetes, que aqui ficou bem mais forte,
porque eu não gostava dos sabonetes que vendiam. Cada vez que algum deles ia para
o Brasil trazia em sua maleta sabonetes. Quando voeltei para o Brasil, em março
de 2009, distribui sabonetes para todas as amigas).
E daquilo que eu tentei me afastar durante
algum tempo, passou a fazer parte da minha vida em Barcelona,
indiscutivelmente. Não é questão de negar sua cultura, exatamente o contrário
disso, aprender de outras para dialogar com a sua. Estar fora, colocar-se desde
fora é essencial para compreender certas coisas/atitudes e práticas para mim
atualmente.
Claudia Barcelos
no livro compartilha falas interessantes dos sujeitos da pesquisa que realizou:
O sujeitos
trazem expressões como: “nacionalismo
qualificado” - “eu fingia que não era brasileira para não entrar na rede de
brasileiros” – “eu comecei a ser brasileiro lá” – “a vida é mais fácil, mais
organizada” – “coisas de primeiro mundo” – “eu continuava espectadora: ...mas
foi legal, isso foi interessante”...
Estes recortes,
feitos por mim do livro da pesquisadora anteriormente citada, foram tiradas do
contexto em que foram inseridas, isso não quer dizer que tenham perdido seu
sentido.
Os que lerem
este post e que já viveram alguma experiência como estrangeiro com certeza se identificarão
com alguma fala compartilhada aqui.
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